A campanha das
tropas britânicas no norte da África resultando no abandono dos blindados
danificados por falta de capacidades logísticas, evidenciou aos
norte-americanos a falta de um veículo especializado capaz de recuperar e
transportar veículos imobilizados, seja em combate ou por problemas mecânicos,
que por sua vez tiveram a infeliz consequência de levar a perda de numerosos
blindados desnecessariamente deixados para trás e/ou destruídos. A partir
desta constatação, foi dada ênfase a necessidade de um veículo “off-road”,
capaz de transportar e recuperar todos os veículos norte-americanos então em
serviço, em particular o M4 Sherman.
O M26 entrou em
ação pela primeira vez na Frente Italiana de 1943, e mais tarde foi amplamente
usado no avanço dos Aliados no interior da França, após a invasão na
Normandia. Em todos os tipos de clima e mesmo sob fogo, de dia ou noite,
as equipes de reparos cumpriam continuamente seu dever de recuperar e reparar
blindados danificados.
Diversas
empresas, algumas das quais especializadas na fabricação de máquinas pesadas
para mineração e pedreiras, apresentaram e expuseram seus trabalhos. O
desenho finalmente aceito, e que entrou em serviço em meados de 1943, foi
batizado de M25. Consistia em um cavalo mecânico M26, construído pela
Pacific Car and Foundry Company, Renton (Washington), e um semi-reboque M15,
construído pela Fruehauf Company. Devido à sua finalidade e tamanho
imponente, recebeu o apelido de "Dragon Wagon".
Projetado pela
Knuckey Truck Company de San Francisco (especializada em projetos de caminhões
de mineração e pedreiras), os primeiros tratores foram construídos em
configuração blindada para recuperações no campo de batalha e foram entregues
ao Exército no final de 1943. Mas como Knuckey não podia produzir os veículos
em número suficiente, A Pacific Car and Foundry Company, de Renton Washington,
foi contratada e acabou fabricando a maioria dos “Dragon Wagons” durante o
período de produção de 5 anos. Em 1944, um segundo modelo sem blindagem
com teto de lona (M26A1) substituiu o modelo blindado original nas linhas de
produção e, no final da produção, mais de 1.270 de ambos os modelos tinham sido
concluídos.
O trator 6x6 M26
tinha uma cabine blindada que protegia a tripulação de 7 integrantes do fogo de
armas leves e fragmentos de artilharia. O motor era um Hall-Scott 440 de 6
cilindros a gasolina, capaz de fornecer 240 bhp, propulsando o veículo por meio
de um eixo de transmissão com pivô central e uma transmissão por corrente para
o truck com 4 conjuntos de pneus duplos em 2 eixos, patenteada para o conjunto
do “bogie” traseiro, com pneus 1400 x 24. Tinha uma transmissão de 4
velocidades e uma caixa de transferência de 3 velocidades, permitindo um total
de 12 velocidades, geralmente o suficiente para dirigir dentro e fora de
estrada. Controladores de velocidade foram instalados para limitar a
velocidade a 45 km/h. A transmissão por corrente nas rodas traseiras provou ser
uma das características mais notáveis ??do M26, já que a corrente era do tipo
autolubrificante contínuo e constantemente jogava óleo ao longo da
estrada. O peso do trator M26 era de 21 toneladas e seu consumo de
combustível girava em torno de 1 km/l, mesmo em boas estradas. O
semi-reboque M15 podia levar uma carga de até 40 toneladas, o suficiente para
dar suporte ao M4 Sherman, o principal "cliente" dos “Dragons
Wagons”. O peso da carreta era de 17,5 toneladas e contava com 2 rampas
dobráveis ??para carregar os veículos. As rodas traseiras podem ser
movidas horizontalmente (aumentando o comprimento dos eixos), para facilitar o
carregamento de veículos com larguras diferentes, bem como a utilização de
rampas de aço montadas sobre os pneus traseiros evitando o contato com os
pneus. Os freios, operados a ar, atuavam apenas nas rodas traseiras e haviam controles
manuais separados montados na coluna de direção para operar os freios do
semi-reboque. O M15 teve sua capacidade de carga útil aumentada de 40 toneladas
para 45 toneladas e foi conhecido como M15A1, com coberturas articuladas sobre
as rodas traseiras, modificado para carregar blindados mais pesados no
pós-guerra. O M15A2 foi uma versão mais reforçada, alguns deles
permanecendo em serviço até a guerra do Vietnã.
Media M26 7,72 m; M15 11,71 m de comprimento; M26 4,32 m e M15 3,81 m de largura e M26 3,48 m de altura. A armadura do M25 tinha frontais de 19 mm e traseira de 6,4 mm. Sua autonomia era de 193 km. Possuía 3 guinchos, um na frente que podia arrastar 18 toneladas e 2 atrás da cabine, cada um com capacidade para 30 toneladas. No teto da cabine, havia um anel deslizante instalado no qual uma metralhadora calibre .50 HMG podia ser instalada. A tripulação tinha armamento pessoal padrão, granadas de mão e sinalizadores. O conforto do motorista e 6 tripulantes era pouco, embora contasse com sistema hidráulico de direção. Era uma compensação muito pequena por ter que sentar dentro de uma caixa blindada ao lado de um dos maiores motores a gasolina do mundo, e operar um veículo deste porte sem esta facilidade seria complicado.
A tripulação
também tinha ferramentas para realizar o trabalho de recuperação: equipamento
de solda completo, um compressor de ar, correntes, cabos de reboque, polias
hidráulicas de 10 e 20 toneladas ... etc. Um pequeno guindaste poderia ser
instalado atrás da cabine para levantar cargas leves, ou para mudar uma
roda. Além disso, na parte traseira do motor principal havia uma estrutura
dobrável em A que poderia ser erguida e travada em diferentes posições para
facilitar o arrasto dos veículos recuperados.
Um motorista que
operou um “Dragon” relatou suas experiências com um dos veículos:
“Quando fui
selecionado para dirigir o “Dragon”, ficou óbvio que ficaria na linha de frente
a maior parte do tempo. A primeira coisa que fiz foi remover os controles
de velocidade e ajustar o motor para ganhar velocidade máxima. Eu poderia
levar o velocímetro a 80 km/h com um tanque totalmente carregado. Não
havia nada nas estradas da Itália ou da França que pudesse me impedir por causa
de seu enorme tamanho. Poderíamos parar, carregar ou arrastar um blindado
para fora da zona de combate minutos após a chegada.”
“Minha melhor
lembrança foi quando cruzei com um Sherman preso em um pântano no sul da
França. O blindado estava a cerca de 300 metros no pântano e afundou até a
torre. Havia 3 outros Shermans conectados tentando puxá-lo, que não
conseguiram movê-lo uma polegada! Eu disse: “vocês precisam de uma
mãozinha?” e eles deram uma olhada no meu equipamento e riram. Se nós
não conseguimos retirá-lo, seu caminhão certamente não pode. Eles
removeram os cabos e eu dirigi a plataforma através do pântano e recuei até o
blindado. Engatei os 2 guinchos, puxei-o para cima e saí em
minutos. Eles não podiam acreditar no que viam.”
No final da
guerra, a necessidade de um veículo de recuperação de campo de batalha com
rodas foi reexaminada e considerada desnecessária, com a produção do M26
terminando abruptamente. Os veículos sobre lagartas pareciam fazer um
trabalho melhor de acordo com o Exército, embora fossem mais complicados e
difíceis de manter. Os veículos M26 ainda no estoque do US Army foram
colocados à disposição e vendidos para outros países, ou usados ??pelo exército
apenas para tarefas pesadas de transporte. À medida que novos carros de
combate recém-projetados e colocados em campo aumentaram de peso (M26 Pershing,
por exemplo), tornou-se aparente que um veículo de recuperação com reboque
acoplado não era mais necessário, particularmente porque caminhões e reboques
comercialmente disponíveis estavam disponíveis para marchas rodoviárias e
veículos de recuperação com lagartas eram mais adequados para recuperações
“off-road”. Seu enorme tamanho e formato interessante garantiram-lhe um
lugar no hall da fama dos veículos militares com um design único que foi utilizado
para realizar uma tarefa única e perigosa.
A vida
operacional dos “Dragons Wagons” se estendeu até a Guerra da Coréia e, mesmo
durante os anos 60, o US Army ainda os tinha em seu estoque. Além disso,
alguns deles foram vendidos para diversos países como Japão, Bélgica, Áustria,
Itália, França, Espanha e Turquia. Várias pranchas foram usadas na vida
civil com suas armaduras e modificações militares removidas, transportando
cargas 'especiais'.